Revolta da Baixa do Cassange
#Neste dia, a 4 de janeiro de 1961, nos campos de algodão da Baixa do Cassange, província de Malanje, os camponeses ao serviço da Cotonang (Companhia do Algodão de Angola) recusam trabalhar e queimam as sementes fornecidas pela companhia algodoeira. Estalava, assim, a revolta que, com os assaltos às cadeias de Luanda e a mortandade no Norte de Angola, abria uma explosão de ódio e violência e marcava o princípio do fim do colonialismo português.
Sob o espectro da recente independência do vizinho Congo, o protesto remontava ao final do ano de 1960, quando os camponeses param a produção, recusam pagar impostos, destroem pontes, cortam estradas, incendeiam veículos e edifícios da companhia, saqueiam lojas e atacam colonos brancos, capatazes da Cotonang e forças militares enviadas para impor a ordem.
No entanto, era já longa a injustiça do regime algodoeiro, assente, por um lado, na cultura obrigatória, que compelia os camponeses a cultivar algodão em prejuízo das culturas de subsistência, e, por outro, nos baixíssimos preços pagos, nos castigos corporais, no trabalho forçado e na completa desproteção dos trabalhadores. Em janeiro de 1961 o protesto ganha força e alastra pela região e em fevereiro as autoridades coloniais respondem com o envio de forças militarizadas, execuções sumárias, vaga de prisões e aldeias bombardeadas com napalm. A violência traduz-se num número indeterminado de mortes, entre as largas centenas e as dez mil.
O regime, embora tentando encobrir os acontecimentos, encara-o como um levantamento contra a soberania nacional. Os acontecimentos, precipitar-se-ão com o assalto às cadeias a 4 de fevereiro e com os massacres das populações brancas e dos negros que trabalhavam nas fazendas no Norte de Angola pela UPA (União dos Povos de Angola) em março de 1961, deixando um rasto de milhares de mortos. “Para Angola rapidamente e em força”, dirá Salazar, depois de sobreviver ao golpe de Botelho Moniz, em abril.
A revolta da Baixa do Cassange viria a ser recuperada como a génese da luta pela libertação na década e meia seguinte.
Imagem: Apanha do Algodão, 1961, Desenho de Henrique Abranches.