Última fotografia conhecida de Humberto Delgado. 31 de janeiro de 1965. Reflexo, n.º 15, 25 de fevereiro de 1975. Centro de Documentação do Museu do Aljube Resistência e Liberdade

Humberto da Silva Delgado

(Torres Novas, 15-05-1906 – Badajoz, Espanha, 13-02-1965)

Humberto da Silva Delgado, filho de Joaquim da Silva Delgado, oficial do Exército, e de Maria do Ó Pereira Delgado, nasceu em Boquilobo, Torres Novas, a 15 de maio de 1906.

Depois de frequentar o Colégio Militar, formou-se em Artilharia de Campanha, em 1925, na Escola do Exército, ingressando depois na Escola Prática de Artilharia. Enveredará pela Aeronáutica, concluindo o curso de piloto aviador em 1928 e, em 1936, o curso de Estado-Maior na Escola Central de Oficiais.

Participou no golpe de 28 de maio de 1926 e teve cargos de relevo no Estado Novo, nomeadamente na Legião Portuguesa e na Mocidade Portuguesa. Na qualidade de dirigente da Legião Portuguesa, visita Espanha a convite falangista durante a guerra civil. A partir da década de quarenta, Humberto Delgado aprofundará a sua dissidência relativamente ao Estado Novo, tornando-se uma voz cada vez mais incómoda, até emergir em 1958 como «o general sem medo», inimigo declarado e apostado no derrube de Salazar.

No entanto, em 1942, está presente nas negociações com a Inglaterra relativas à cedência da Base das Lajes, nos Açores. Depois de, em 1944, ter sido nomeado diretor-geral do Secretariado da Aeronáutica Civil, fundou os Transportes Aéreos Portugueses (TAP) em 1945. Em 1952, foi nomeado adido militar na Embaixada de Portugal em Washington e membro do Comité dos Representantes Militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO). Com 47 anos, foi promovido a general.

Em 1958, Humberto Delgado será o candidato da oposição às eleições presidenciais, após a desistência em seu favor de Arlindo Vicente. A campanha de Delgado terá maciça adesão popular e a frase «Obviamente, demito-o!» – quando interrogado sobre que decisão tomaria, em caso de ser eleito, relativamente à manutenção ou não de Salazar – incendeia o país e gera uma dinâmica que fragiliza fortemente o regime. A ditadura recorrerá a uma comprovada burla eleitoral que a 8 de junho colocaria Américo Tomás na Presidência da República.

Humberto Delgado será demitido das suas funções e, após asilo político na Embaixada do Brasil, parte para aquele país em abril de 1959. No exílio estará sempre envolvido nas conspirações visando o derrube do Estado Novo pelas armas. Acompanha os preparativos do assalto ao Santa Maria, envolve-se com movimentos de oposição como o Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação (DRIL) e, nos últimos dias de 1961, nas vésperas do Golpe de Beja, entra clandestinamente em Portugal.

Seguir-se-ão, em 1963, passagens pela Checoslováquia, para reuniões políticas e tratamentos médicos, e pela Argélia, onde desenvolve a sua ação na Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN). Porém, novas e velhas, mas graves, divergências – em torno da questão colonial, da luta armada, do dissídio sino-soviético, da disputa pela hegemonia no movimento e na oposição ou da própria personalidade do general – levam a que Humberto Delgado rompa com a Frente Patriótica de Libertação Nacional e crie a Frente Portuguesa de Libertação Nacional.

Tornado no «inimigo n.º 1 da ditadura», a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) prepara um plano para neutralizar o general. Aquilo que viria a ser a «Operação Outono» começara a ser delineada após o Golpe de Beja e o embaraço que a entrada de Delgado em Portugal causara à ditadura. No essencial, o objetivo era atrair o general a uma cilada na fronteira entre Portugal e Espanha, a pretexto de um alegado encontro com oficiais do Exército na oposição.

A PIDE alicia Mário de Carvalho, exilado próximo de Delgado, que marca uma reunião em Paris em dezembro de 1964 com um alegado advogado oposicionista que, na realidade, era o subinspetor da PIDE Ernesto Lopes Ramos. Neste encontro é agendada nova reunião a ter lugar em Badajoz com outros supostos antifascistas.

Já em Espanha, Delgado, acompanhado da secretária, Arajaryr Campos, é transportado por Ernesto Lopes Ramos para o local da reunião com os supostos oficiais conspiradores do Exército português.

No dia 13 de fevereiro de 1965, em Badajoz, esperava-o uma emboscada da PIDE. E a morte, aos 58 anos. António Rosa Casaco, Casimiro Monteiro, Agostinho Tienza e Ernesto Lopes Ramos formam a brigada de algozes da PIDE responsável pelo assassinato de Humberto Delgado e Arajaryr Campos, cujos corpos são encontrados apenas em abril, em Villa Nueva del Fresno, junto a um caminho conhecido por «Los Malos Pasos», perto da fronteira portuguesa.

Outros testemunhos