Mapa da República da Guiné-Bissau com indicação manuscrita do local da declaração do Estado da República da Guiné-Bissau.; Fundo: Lino Bicari

Fundo Lino Bicari

O Fundo de Lino Bicari é constituído pelas seguintes Secções: Áreas de Intervenção; Correspondência; Documentos da autoria de Lino Bicari; Imprensa; Lutas Anticolonialistas/Movimentos Independentistas e PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde).

CONSULTE O FUNDO DE LINO BICARI

Nota biográfica de Lino Bicari*

Lino Bicari nasceu em Borgo Val Di Taro, na província de Parma, em Itália, a 1 de dezembro de 1935. Entre 1959 e 1963 cursou Teologia no Seminário do Instituto Pontifício das Missões Estrangeiras de Milão (PIME) e fez estudos complementares em Medicina Missionária, Etnoiátrica, Psicopedagogia, Didática e Etnologia. Em 1966 e 1967 estudou Língua Portuguesa, Administração Colonial, Estatística e Etnografia do Ultramar Português no Colégio Pio XII em Lisboa.

Em 1967, em plena guerra colonial, chega à Guiné-Bissau, como missionário do PIME, e assume o cargo de Diretor do Internato da Missão Católica em Bafatá. Será responsável pela formação dos professores das escolas das missões de Catió, Bubaque, Biombo, Comura, Suzana, Farim, Bambadinca e Bafatá. Alguns dos seus alunos, terminada a formação, integrarão de imediato a luta armada pela independência.

Marcado pela II Guerra Mundial, o fascismo e o colonialismo italianos, desde jovem que Lino forja um pensamento antifascista e anticolonial. Já a estudar em Portugal, tem uma consciência muito clara do que era o colonialismo português que se robustece na Guiné, com o aprofundar do conhecimento sobre os horrores da guerra colonial e os crimes do colonialismo, num processo que o conduzirá à decisão de juntar-se ao PAIGC nas zonas libertadas.

Nesta primeira passagem pela Guiné, estabelece uma relação próxima com o capelão militar de Bambadinca, o Padre Arsénio Puim que acabará por ser preso e expulso do Exército pelas suas posições de denúncia da guerra, nomeadamente numa homilia realizada em 1971 que marcara Bicari de forma perene.

De regresso a Itália entre 1971 e 1973, Lino Bicari contacta com o PAIGC, no qual militará até 1987, conhece o dirigente do PAIGC José Turpin e estabelece contacto com Amílcar Cabral, assassinado pouco depois.
Volta à Guiné-Bissau em 1973 e, consumada a rotura com o governo português e desvinculado da Missão, inicia o seu trabalho com o PAIGC numa zona libertada na região do Boé como diretor do Hospital Regional.

Após a independência, desempenhou algumas missões políticas e cargos no âmbito da Saúde e Educação da Guiné-Bissau, sendo um dos raros estrangeiros a quem foi reconhecido, pelas autoridades guineenses, o estatuto de Combatente da Liberdade da Pátria. Radicado em Portugal desde 1990, continuaria a trabalhar em projetos de desenvolvimento em África, nomeadamente em Angola ou Moçambique. Foi consultor da UNICEF e trabalhou com organizações não-governamentais, portuguesas, alemãs e holandesas em projetos de desenvolvimento local.

* A partir da biografia realizada em 2015 no âmbito da inclusão do espólio no Museu do Aljube.

Alguns documentos que pode encontrar no Fundo Lino Bicari.