PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, liv. 11, registo n.º 2075 PT/TT/PIDE/E/010/11/2075. Arquivo Nacional Torre do Tombo

Bento António Gonçalves

(Fiães do Rio, Montalegre, 02.03.1902 — Tarrafal, Ilha de Santiago, Cabo Verde, 11.09.1942)

Bento António Gonçalves, filho de Francisco Gonçalves e Germana Alves, nasceu em Fiães do Rio, concelho de Montalegre a 2 de março de 1902. Veio cedo para Lisboa e começou a trabalhar em 1915 como torneiro de madeira e, depois, como torneiro mecânico, entrando no Arsenal do Alfeite em 1919. Foi no exercício dessa profissão que, entre 1922 e 1926, cumpriu o serviço militar nas Oficinas Gerais do Caminho-de-Ferro de Luanda, onde colaborou com o movimento sindical. De volta a Lisboa, teve papel destacado na reorganização do Sindicato do Pessoal do Arsenal da Marinha.

Em 1928 tornou-se militante do Partido Comunista Português (PCP) e, em abril de 1929, foi eleito secretário-geral, liderando o processo de reorganização do partido. Reforçou e lançou entidades como o Socorro Vermelho, a Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (FJCP), os Grupos de Defesa Académica, a Liga contra a Guerra e o Fascismo, a Comissão Intersindical e a Organização Revolucionária da Armada (ORA). Bento Gonçalves procurou, ainda, imprimir uma via leninista e combater as tendências «anarquizantes» e «reviralhistas» no PCP, ao mesmo tempo que reforçava a combinação de formas de luta legais e ilegais, a ação do PCP nos Sindicatos Nacionais e o papel da propaganda e da doutrinação com o início da publicação do Avante! em 1931.

Preso pela primeira vez a 29 de setembro de 1930 no Arsenal, foi enviado para o Forte de São Julião da Barra, perto de Lisboa, a 8 de outubro, e daí seguiu para os Açores, ficando em regime de residência fixa na Ilha do Pico. Da ilha açoriana foi transferido para as ilhas do Sal e do Fogo, em Cabo Verde, até que foi libertado pela amnistia de 1932. Meses depois passou à clandestinidade, exercendo atividade política em vários pontos do país.

A 11 de novembro de 1935, poucos meses depois de participar no VII Congresso da Internacional Comunista (IC) em Moscovo, foi detido em Lisboa e colocado na Prisão do Aljube, ficando momentaneamente comprometida a implementação das orientações da IC. A 8 de janeiro de 1936, foi transferido para a Fortaleza de Angra do Heroísmo, nos Açores. Julgado em Tribunal Militar, a 3 de agosto de 1936, foi condenado a seis anos de desterro, multa pecuniária e perda de direitos políticos por dez anos.

Transferido a 23 de outubro de 1936 para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, aí permaneceu detido até à data da sua morte, a 11 de setembro de 1942, vítima de «febre biliosa hemoglobinúrica». No Tarrafal escreveu sobre a história do PCP e do movimento operário Palavras Necessárias e Duas Palavras.

Depois da morte do líder anarquista Mário Castelhano em 1940 e com a morte do dirigente comunista Bento Gonçalves, desapareciam duas figuras tutelares dos dois grandes grupos políticos a que estavam ligados os presos enviados para o Tarrafal.

Ficha prisional

Outros testemunhos