Apresentação do livro “Mulheres na luta contra o fascismo e o colonialismo”
O livro Mulheres na luta contra o fascismo e o colonialismo editado pela Colibri é o resultado do Congresso Internacional com o mesmo nome que teve lugar na Torre do Tombo em Novembro de 2024 e da responsabilidade de três instituições (MDM, CEComp/FLUL e IHC/FCSH) para o qual contou com um financiamento do Instituto Camões.
Este Congresso juntou, pela primeira vez, vozes fundamentais da memória histórica das mulheres que lutaram contra o fascismo em Portugal e contra o colonialismo nos países africanos de língua portuguesa. Pela primeira vez, puderam partilhar experiências, memórias, testemunhos, alguns deles, inéditos. Às vozes históricas juntaram-se também académicas, activistas e militantes contemporâneas da luta pelos direitos das mulheres e igualdade de género, em Portugal e nos países africanos de língua portuguesa
O fascismo e o colonialismo andaram de mãos dadas. Foram 48 anos de profunda exploração, obscurantismo e repressão exercidos por um regime autoritário que condenou o povo português ao atraso social, à fome e à miséria, à escuridão, ao silêncio e silenciamentos. Foi um fascismo de mãos dados com o poder colonial que matou e estropiou os seus jovens, negou todos os direitos às mulheres remetendo-as para um papel de subalternização em todas as áreas da vida.
O fascismo foi um tempo de profundas mistificações e humilhações sobre o papel das mulheres e as suas vozes duplamente silenciadas.
50 anos após a Revolução dos Cravos e das Independências africanas, é preciso afirmar que as Mulheres também fizeram Abril! Em Portugal contra o fascismo e nos países africanos na luta anticolonial.
A história do colonialismo português em África está repleta de resistências, e as mulheres africanas desempenharam um papel fundamental nessas lutas. Apesar da invisibilização histórica, muitas mulheres destacaram-se como anónimas, como combatentes e intelectuais na resistência à opressão colonial. Por isso, ao comemorar os 50 anos do 25 de abril e das Independências, é preciso vocalizar as histórias de mulheres, tanto como sujeitos da História quanto como objeto. Foi o que se pretendeu no Congresso Internacional Mulheres em Luta contra o Fascismo e o Colonialismo, que teve organização conjunta de três instituições (MDM, o CEComp/FLUL e o IHC/FCSH) e que conseguiu demonstrar que as histórias das mulheres são essenciais para a compreensão do passado colonial e para a construção de um futuro mais igualitário.
Procurava-se neste Congresso tirar da invisibilidade e do anonimato mulheres que fizeram o 25 de abril. . Na discussão e nas diversas apresentações, elas saíram dos ficheiros da PIDE e de muita documentação dispersa, desde a repressão fascista sobre escritoras, censurando as suas vozes, ou evidenciando a dureza da vida nas cadeias. Algumas destas heroínas estiveram presentes ou foram nomeadas e recordadas por investigadoras que buscam uma verdade fundamentada no conhecimento. Aqui se encontram memórias e histórias emocionantes por serem contadas de viva-voz, por antifascistas e por guerrilheiras de Moçambique e de Angola e por várias organizações de São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné que, com experiência da vida diferentes nos seus países, foram e estão sendo construtoras dos seus países.
. A escrita no feminino de autoras africanas e portuguesas também aqui trazida comprova e confirma a natureza opressora e desumana do fascismo, das suas formas brutais ou sofisticadas de dominação e adulteração das consciências, de menorização das pessoas, da humilhação das mulheres, das desigualdades e assimetrias entre povos. Este livro que contém todas as comunicações não deixa cair no esquecimento as guerreiras que, nos países colonizados por Portugal, lutavam pela sua independência, com as suas mãos e seus corpos enterrados em lama e no capim combatendo com armas na mão por uma causa justa, nem deixa apagar da nossa memória a luta antifascista que em Portugal tantas mulheres ousaram. Nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, considerou-se absolutamente necessário não esquecer a ação convergente dos movimentos que em Portugal lutavam contra o fascismo e contra a guerra colonial, com a ação dos movimentos de libertação das colónias. Todas elas foram imprescindíveis para o triunfo da revolução de abril em 1974 e para as independências das ex-colónias portuguesas em África.
Vivencias e experiências que aqui são testemunhadas e que vos convidamos a partilhar.
O livro será apresentado por Profª Isabel Araújo Branco, num painel com Regina Marques (dirigente do MDM), Olga Iglésias, Antonieta Rosa Gomes (investigadoras) e Isabel Van-Dunem (dirigente da OMA), moderação Raquel Ribeiro (investigadora).