Casa onde se refugiaram guerrilheiros durante o cerco a Cambedo da Raia. AAVV, Cambedo da Raia. "Solidariedade galego-portuguesa silenciada", Lisboa, Tigre de Papel, 2021, p.148

Bernardino García y García

(Parada das Vinhas, Ourense, Espanha, 1910 — Cambedo da Raia, Chaves, 21.12.1946)

Bernardino García y García, de 36 anos, natural de Parada das Vinhas, Viana do Bolo, em Ourense, morreu durante o cerco à aldeia de Cambedo da Raia, junto à fronteira com a Galiza. A aldeia foi bombardeada com morteiros e cercada por centenas de efetivos da Guarda Nacional Republicana (GNR), Exército Português e Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), com o apoio da Guardia Civil espanhola.

Vários refugiados e guerrilheiros galegos – que se opunham às forças franquistas e procuravam escapar à repressão aberta pelo Alzamiento – encontravam solidariedade e refúgio nesta aldeia no concelho de Chaves. Muitos destes homens eram vistos e descritos pelas autoridades como «malfeitores», «criminosos» ou «contrabandistas». Incidentes e assaltos ocorridos meses antes, atribuídos a supostos guerrilheiros galegos, foram o pretexto para a operação militar.

A «Guerra do Cambedo», em que habitações são destruídas, pessoas feridas e dois guerrilheiros mortos, foi encoberta pela censura e diluída numa narrativa que apresentava os acontecimentos que a espoletaram como meros episódios de banditismo, sendo os resistentes galegos invariavelmente descritos como «bandoleiros».

Depois do fogo, seguiu-se a repressão policial. A GNR e a PIDE farão dezenas de detenções na região, prendendo famílias inteiras, acusadas de acolher «bandos de malfeitores».

Naquele dia 21 de dezembro de 1946 estavam refugiados em Cambedo três guerrilheiros galegos: Demetrio García Alvarez, Juan Salgado Ribero e Bernardino García y García.

Bernardino e Demetrio estavam na casa da irmã e do cunhado deste. Com o início do fogo procuram fugir da aldeia, mas acabam por abrigar-se numa casa vizinha onde são intercetados pela GNR. Seguir-se-á um tiroteio em que são mortos dois soldados da GNR, José Joaquim e José Teixeira Nunes e, depois, o bombardeamento da referida casa pelo Batalhão de Caçadora n.º 10 de Chaves. Demetrio rendeu-se e será, dos sobreviventes, o mais duramente castigado, com dezanove anos de prisão, parte deles no Campo de Concentração do Tarrafal.

Bernardino foi encontrado morto, tudo indicando que se tenha suicidado com um tiro na cabeça, enquanto o outro guerrilheiro, Juan Salgado Ribero, havia sido morto pela GNR.

Os cadáveres dos dois guerrilheiros foram publicamente expostos no cemitério de Chaves.

Outros testemunhos