"Morte de Catarina Eufémia", [1954-1961]. José Dias Coelho. n.a., n.d. Linogravura sobre papel. 39,7 × 51,4 cm. Espólio artístico José Dias Coelho Coleção Museu do Neo-Realismo. (n.º inv. 155-06)

Catarina Efigénia Sabino Eufémia

(Baleizão, Beja, 13.02.1928 — Baleizão, Beja, 19.05.1954)

Catarina Eufémia, trabalhadora rural com ligações ao Partido Comunista Português (PCP), nasceu a 13 de fevereiro de 1928, em Baleizão, Beja, e residia em Quintos. Assassinada a tiro pela Guarda Nacional Republicana (GNR), em 1954, tornou-se um símbolo das lutas nos campos do Alentejo, da luta das mulheres e da brutalidade e violência do Estado Novo. Mito perene da resistência à ditadura, foi um referencial para muitas mobilizações que se lhe seguiram.

Por alturas do começo das ceifas do trigo, os trabalhadores da zona do Baleizão entram em luta por melhores jornas. Em maio de 1954 fazem greve, exigindo 52$, para os homens, e 32$, para as mulheres, de jorna. A necessidade de mão-de-obra, nomeadamente em casos de greves como as verificadas no Baleizão, tornava frequente o recurso, pelos proprietários, a assalariados vindos de outros pontos do Alentejo, das Beiras ou do Algarve que aceitavam fazer o mesmo trabalho por uma jorna mais baixa.

É assim que no dia 19 de maio de 1954, os trabalhadores de Baleizão procuram convencer os trabalhadores rurais vindos de outras paragens a recusar o trabalho e aderir também à greve.

Os elementos da GNR intervêm para desmobilizar a multidão que se concentrara e pressionar os trabalhadores a regressar ao trabalho. Os ânimos exaltam-se e a indignação cresce, com assalariados rurais fazendo frente à Guarda.

Num clima de grande tensão e intimidação, um grupo de cerca de quinze mulheres dirige-se aos trabalhadores vindos de fora, mas é intercetado pelo tenente Carrajola da GNR, que depois de disparar uma rajada para o ar, aborda e agride Catarina Eufémia, que caiu ao chão com o filho que trazia ao colo. De seguida, o referido tenente disparou a sua arma atingindo mortalmente Catarina Eufémia com três tiros. Tinha 26 anos e deixava três filhos.

A aldeia do Baleizão é ocupada pela GNR e decretado o recolher obrigatório. Não obstante as autoridades terem antecipado o funeral, não evitaram que se gerassem momentos de grande contestação popular e protesto, violentamente reprimidos pelas forças policiais que fazem várias prisões nos dias seguintes.

O caixão de Catarina Eufémia acabou por ser levado apressadamente, sob escolta da polícia, não para o cemitério de Baleizão, como previsto, mas para Quintos, a cerca de dez quilómetros. Só depois do 25 de Abril de 1974 os restos mortais de Catarina Eufémia seriam finalmente trasladados para Baleizão. O tenente Carrajola, responsável pela morte, foi transferido e nunca sofreu qualquer consequência legal pelo assassinato. O Avante! noticiará a morte de Catarina Eufémia com a gravura de José Dias Coelho, também ele assassinado pela polícia política anos depois.

Evocada no teatro, artes plásticas, literatura ou música, nomeadamente por José Afonso em Cantar Alentejano, Catarina Eufémia foi, para além do mito, uma mulher que lutou pelos seus direitos e por melhores condições de vida e que acabou assassinada pelas polícias da ditadura.

Outros testemunhos