Primitivo García Bárcia Fotografias dos pais, Manuel Bárcia e Manuela García Alvarez PIDE, Serviços Centrais, Registo Geral de Presos, liv. 87, registo nº 17276 PT/TT/PIDE/E/010/87/17276 + liv. 89, registo nº 17669 PT/TT/PIDE/E/010/89/17669 Arquivo Nacional Torre do Tombo (ANTT)

Primitivo García Bárcia

(Cambedo da Raia, Chaves, 1946 — Porto, 1947)

Dez anos depois do Alzamiento franquista de julho de 1936, a aldeia de Cambedo da Raia, no concelho de Chaves, foi alvo de uma violenta ação conjunta da Guardia Civil espanhola, Exército português, Guarda Nacional Republicana (GNR) e Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE).

Situada junto à fronteia com a Galiza, Cambedo, aldeia que em 1864 fora incorporada no território português, há muito que refletia a porosidade das comunidades de fronteira, em que as redes de solidariedade locais, vivências comuns e laços familiares se sobrepunham a marcos geográficos. Vários refugiados e guerrilheiros galegos, procurando escapar ao terror franquista, encontram naquela zona, em particular em Cambedo, solidariedade e refúgio.

No dia 20 de dezembro de 1946 a aldeia foi cercada e bombardeada com tiros de morteiro. Os guerrilheiros galegos, Juan Salgado Ribero e Bernardino García y García, que ali se haviam refugiado, morreram, bem como dois soldados da GNR.

A «Guerra do Cambedo» foi encoberta pela censura e apagada da história. Os acontecimentos que levaram ao bombardeamento foram fixados como meros episódios de banditismo e os resistentes galegos apresentados invariavelmente como «bandoleiros». PIDE e GNR farão dezenas de detenções na região, prendendo famílias inteiras, acusadas de acolher «bandos de malfeitores».

Uma destas famílias foi particularmente martirizada. Manuel Bárcia é um dos detidos pela PIDE na sequência dos acontecimentos, tal como a sua esposa, Manuela García Bárcia, o pai, o sogro, o irmão, a irmã da esposa e o cunhado. Com grande parte da família presa, Manuela García Bárcia foi presa com o filho de ambos que era ainda bebé. Chamava-se Primitivo e viria a morrer em 1947, ao que tudo indica nos cárceres da PIDE do Porto, com uma pleurisia, resultado de uma pneumonia, com apenas um ano de idade.

Ficha prisional

Ficha prisional

Outros testemunhos