Joaquim do Carmo e Raúl Canal
Biografias
Joaquim da Silva Rodrigues Carmo nasceu a 10 de dezembro de 1937 em Silves, cidade de forte implantação da indústria corticeira e de grandes tradições de resistência. Seguirá o percurso de muitos corticeiros de Silves e, com sete anos, vai viver para a Cova da Piedade com a família. Durante a infância vive, com os pais e o irmão, num quarto alugado à mãe de Joaquim Montes, corticeiro morto no Tarrafal.
Começa a trabalhar com 13 anos numa fábrica de cortiça, onde perde parte de um dedo e é vítima de um acidente num olho. Ligado ao Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil, integra as comissões de apoio a Arlindo Vicente e Humberto Delgado nas eleições de 1958. Tem grande atividade nas cooperativas e sociedades recreativas locais. Fez parte da comissão cultural da Cooperativa Piedense, fortemente vigiada pela PIDE, e esteve ligado à Sociedade Filarmónica União Artística Piedense.
Na sequência das grandes mobilizações operárias e estudantis de 1962 e dos protestos pelo assassinato de Cândido Capilé, Joaquim Carmo é preso em abril de 1963. Depois de passar pelas prisões do Aljube e Caxias, é libertado em julho de 1963. Segue-se o exílio na Suécia, para onde parte em agosto de 1966, regressando a Portugal depois do 25 de Abril de 1974.
Raúl Manuel da Silva Canal nasceu a 17 de março de 1927 no Seixal, onde residia e trabalhava como corticeiro na Mundet, empresa que empregava praticamente toda a sua família. Integra o Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil, o Partido Comunista Português (PCP) e, mais tarde, o Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral (MDP/CDE). Envolve-se em numerosas lutas laborais por aumentos salariais, segurança e melhores condições de trabalho.
Participa ativamente na atividade das coletividades e cooperativas locais. Foi diretor-geral da biblioteca da Sociedade Democrática Timbre Seixalense, cargo de que seria afastado, por razões políticas, pelo presidente da Câmara. A coletividade seria provisoriamente encerrada e alvo da perseguição da PIDE na sequência de um espetáculo, em 1946, do Coro Lopes Graça, após o qual, músicos e população, cantam pelas ruas do Seixal os versos de “As papoilas”, escritos por José Gomes de Ferreira.
Integrou ainda a secção cultural da Cooperativa Operária de Consumo 31 de Janeiro de 1911, onde a PIDE o prende em outubro de 1964. Depois de passar pelo posto de Setúbal, segue para a cadeia do Aljube onde fica temporariamente incomunicável. Na sede da PIDE em Lisboa, é sujeito, durante cinco dias e cinco noites, à tortura do sono e da estátua. Durante o período de tortura e interrogatório, recusa ingerir qualquer alimento. É libertado no fim de março de 1965.
Data de Recolha: 08.11.2017
Palavras – Chave: Prisão do Aljube, PIDE, Interrogatórios, PCP, Tortura, Operários Corticeiros, Cooperativas, Família, Caxias, Informadores, Cultura.