A rádio antes da revolução: uma fresta para a Liberdade
Que outra rádio era possível contra os vampiros do fascismo?
Algumas frequências: uma reportagem única na fronteira do “teatro do absurdo”, no cemitério do Vimieiro, em Santa Comba Dão; uma sessão de escuta num cinema de Lisboa, com dois gravadores Uher em palco representando os exilados Sérgio Godinho e José Mário Branco; e a voz que resistia em Argel fazendo da rádio um “poemarma”.
1972. Adelino Gomes e João Paulo Guerra preparam um regresso a Lisboa, de gravador vazio, depois de uma reportagem fracassada perseguindo um falso rumor, não muito longe de Viseu. Até que um deles desafia o outro para uma visita surpresa à campa de Salazar, o ditador que tinha morrido 2 anos antes; o vampiro-mor que ainda lhes sugava o futuro. De microfone escondido, o que foram eles encontrar?
No ano anterior, não muito longe de Paris, no mítico Château d’Hérouville, eram gravados alguns dos discos que mudariam o nosso tempo e as nossas vidas. Quando, por esses dias, no seu Citroën dois cavalos, José Mário Branco foi buscar Adelino Gomes a um dos aeroportos parisinos, o músico estava longe de imaginar a “mis-en-scène” radiofónica que o futuro repórter de Abril e José Manuel Nunes haveriam de montar mais tarde, em Lisboa, para lançarem de uma assentada e em directo, o LP “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” e o EP de estreia de Sérgio Godinho “Romance de um dia na estrada”. Aquele acontecimento radiofónico de 26 de Novembro de 1971 no cinema Roma [1] , actual Forum Lisboa, acabou por ser, à margem e de certa maneira, uma sessão de escuta “avant la lettre”.
E a Liberdade estava a passar por aqui, quando aqui era a voz de Manuel Alegre chegando de Argel, em ondas curtas ou em ondas médias:
“Que o poema seja microfone e fale
uma noite destas de repente às três e tal
para que a lua estoire e o sono estale
e a gente acorde finalmente em Portugal.”
Com Manuel Alegre, Adelino Gomes, João Paulo Guerra, Francisco Fanhais e André Cunha.
Esta sessão de escuta abre a extensão portuguesa do ciclo “25 de Abril, sempre no ar” – uma programação radiofónica lançada em Brest, no Longueur d’ondes, um dos maiores festivais de rádio do mundo, e que agora sintoniza Abril em Maio no Museu do Aljube – Liberdade e Resistência.
PRÓXIMAS SESSÕES:
14 MAI – TER, 18H
25 de Abril de 1974: um memorável Atelier de Criação Radiofónica
21 MAI – TER, 18H
2014. Ocupação da TSF: “dar novas palavras à rádio”
[1] O fragmento sonoro a ser escutado foi escolhido a partir de uma bobine digitalizada pelo Centro de Estudos e Documentação José Mário Branco — Música e Liberdade. A bobine contém a primeira parte da sessão/emissão organizada pela Guilda da Música e pelo programa “Página 1”, coordenado por José Manuel Nunes, na Rádio Renascença.